Palavras que ferem
"Pai, perdoa-lhes." Lucas 23.34.
O diálogo naquela manhã de sexta-feira foi amargo.
Os espectadores diziam, "Desça da cruz se é o
Filho de Deus!"
Os líderes religiosos falavam, "Ele salvou
outros, mas nâo pode salvar-se a si mesmo'
E os soldados, "Se é realmente o rei dos
judeus, salve-se a si mesmo".
Palavras amargas, cheias de sarcasmo.Odiosas.
Irreverentes. Nâo bastava que ele estivesse sendo crucificado? Não bastava que
fosse envergonhado como um criminoso? Os pregos eram insuficientes? A coroa de espinhos macia demais? Os açoites muito
leves?
Para alguns, a ideia era essa.
Pedro, um escritor que geralmente nâo era dado a
usar muitos verbos descritivos diz que os passantes "atiravam"
insultos ao Cristo crucificado. Eles "atiravam" pedras
verbais. Tinham toda intenção de ferir e machucar. "Quebramos o corpo,
vamos quebrar agora o espírito!" Esticaram os arcos com a auto-retidão e
lançaram flechas afiadas e cheias de puro veneno.
De todas as cenas
em volta da cruz é esta que me provoca mais ira. Que tipo de pessoas, pergunto
a mim mesmo, iria zombar de um homem agonizante? Quem seria tão vil a ponto de
derramar o sal do escárnio sobre feridas abertas? Quem tão baixo e perverso que
desdenhasse alguém atormentado pelo sofrimento? Quem riria do indivíduo sentado
na cadeira elétrica? Ou quem apontaria o dedo e zombaria do criminoso de cujo
pescoço pende o laço do carrasco?
Pode estar certo
que Satanás
e seus demônios foram a causa de tal perversidade.
O criminoso na cruz
número dois atira então o seu golpe.
"Você não é o
Cristo? Salve então a si mesmo e a nós!"
As palavras
atiradas naquele dia tinham como objetivo causar dor. E não há nada mais penoso
do que esse tipo de palavras. Essa a razão de Tiago ter chamado a língua de
fogo consumidor. As queimaduras que provoca são tão destrutivas e desastrosas
como as de um ferro de soldar.
Não estou falando
nada de novo. Você sem dúvida já teve a sua parte de palavras que ferem. Já
sentiu a ferroada
de uma zombaria que acertou o alvo. Talvez esteja ainda sentindo dor. Alguém
que ama e respeita o joga no chão com um lapso verbal. E você fica ali, ferido
e sangrando. Talvez as palavras tivessem a intenção de feri-lo, talvez não. Mas
isso não importa. A ferida é profunda. Os danos são internos. Coração partido,
orgulho machucado, sentimentos ofendidos.
Ou, quem sabe, o
seu ferimento é antigo. Embora a flecha tenha sido extraída há muito tempo, a
ponta continua alojada... oculta sob a pele. O velho sofrimento ressurge sem
avisar e decididamente, lembrando você das palavras duras que ainda não
conseguiu perdoar.
Se você sofreu ou
está sofrendo por causa das palavras de alguém', ficará contente em saber que existe um bálsamo para a sua
ferida. Medite sobre estas palavras de 1 Pedro 2.23:
Ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje,
quando maltratado não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente.
Viu o que Jesus não fez? Ele não revidou. Ele não
se vingou. Não disse, "Vou pegá-lo!" "Venha aqui e diga isso na
minha cara!" "Espere até depois da ressurreição, meu amigo!"
Essas frases não saíram absolutamente dos lábios de Cristo.
Você viu o que Jesus fez? Ele se entregou
"àquele que julga retamente". Ou, em palavras mais simples, deixou o julgamento
para Deus. Não tomou a si a tarefa de buscar vingança. Não exigiu desculpas.
Não prometeu prêmios aos caçadores, nem enviou pessoa
alguma em perseguição. Pelo contrário, surpreendentemente, os defendeu.
"Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que
fazem."
O diálogo naquela manhã de sexta-feira foi sem dúvida amargo. As pedras verbais tinham a
intenção de ferir. Como Jesus, com o corpo cheio de dor, os olhos cegos pelo
seu próprio sangue, e os pulmões lutando para respirar, podia ainda defender
alguns rufiões desalmados, está acima da minha compreensão. Jamais, jamais eu
vi um amor assim. Se alguém merecia vingar-se, esse era Jesus. Mas não fez isso. Pelo contrário,
morreu por eles. Como pôde agir assim? Não sei. Mas sei que de repente meus
ferimentos deixam de doer. Minhas queixas e ressentimentos ficam de súbito
parecendo infantis.
Algumas vezes me pergunto se não vemos o amor de
Cristo tanto nas pessoas que tolerou como na dor que sofreu.
Graça sublime.
(Max Lucado)
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