Luta interna



          É de modo gradual que você vai se distanciando, como existisse uma ofensiva contra sua alma, lhe empurrando para o isolamento. Aos poucos vamos nos aproximando da zona cinzenta da solidão.
           Os sinais de socorro são emitidos, mas, como de praxe por ninguém são observados. E lá vamos nós, de ladeira abaixo, ouvindo recusas de ajuda, não há mãos estendidas, apenas dedos apontados, as poucas amizades existentes atuam como os amigos de Jó.
            Brava luta interna travamos, fazemos de tudo para evitar a sangria, contudo, dia após dia somos abatidos. Percebemos nitidamente a união entre nosso corpo e espírito, quando este último se machuca, arrasta as suas dores até aos nossos nervos, ossos e carne.
            Nosso desejo é reconquistar a alegria de outrora, mas não temos forças para se reerguer, a sensação de insegurança é enorme, não nos sentimos protegidos por ninguém. O impacto é profundo, a vontade é parar tudo, nos sentimos descarregados.
            Na raiz não há apenas um motivo ou causa, mas um probleminha que foi somado a outro, que virou um problemão, um acúmulo de palavras que não foram ditas, de emoções contidas, muita coisa trancada dentro si. Os sentimentos vivem em efervescência, do riso ao pranto, o limite de espaço entre um e outro é mínimo.
            Responder as prerrogativas e cumprir as tarefas, tornar-se um fardo pesado demais, tudo e todos são renegados, assistidos por obrigações impostas pela vida.
            A necessidade de ser forte ante todas as coisas, atrapalha qualquer recomeço. Num primeiro momento uma pequena melhora gera uma ansiedade por dias melhores, mas a brevidade dos bons momentos só nos causa decepção.


Joaquim Queiroz

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