TRÊS PRINCÍPIOS DO PROTESTANTISMO - Parte 04
Sola Fide:
O Protestantismo afirma que a Bíblia é a única
autoridade e que a graça é o único meio de salvação. Isto, no entanto, deixa
uma pergunta ainda sem resposta. Como é que uma pessoa pode receber a salvação?
Ou, dito de outra maneira, como é que uma pessoa pode estar com deus? Esta foi
a pergunta
que deixou Lutero perplexo e o levou quase ao
desespero.
Lutero não se tornou monge por opção. Enquanto ainda
era um jovem estudante, preparando-se para a carreira de advogado, Lutero
estava viajando por uma floresta na Alemanha quando de repente caiu uma
terrível tempestade. Os trovões estrondavam sobre sua cabeça e os raios
atingiam as árvores. O jovem temeu ser consumido por um raio e na sua angústia
ele orou. Lutero orou, mas não a Deus; ele implorou a ajuda de santa Ana, a
santa padroeira dos mineiros. O pai de Lutero havia trabalhado nas minas, então
Lutero se lembrou da infância quando o pai dava instruções que o ensinavam a
buscar a ajuda de santa Ana como mediadora para falar com Deus. Ele prometeu a
santa Ana que se tornaria um monge se a sua vida viesse a ser poupada. Ele
sobreviveu àquele tenebroso temporal, e foi fiel a sua promessa entrando no
monastério da ordem Agostiniana em Emfurt. Como ele se tornou um padre, e,
enquanto estava no monastério, se dedicou às responsabilidades da vida em
comunidade, com um vigor incomum. Passava noites sem dormir, em jejuns e
orações. Procurava confessar os seus pecados todos os dias, em sua busca de
acertar com Deus.
O padre Johan Stauptz, superior monástico de Lutero,
percebeu que este monge era um homem com uma consciência notavelmente sensível.
Lutero se sentia tão oprimido com a sensação de pecado e de culpa que ele não
podia confessar o suficiente, e finalmente Stauptz disse que Lutero saísse do
confessionário e só voltasse quando tivesse realmente pecado para confessar!
Lutero estava vasculhando a sua consciência no esforço de conseguir aliviar o
terrível peso da culpa e da vergonha, mas a confissão a um padre não o ajudou
em nada.
Apesar da Igreja medieval incentivar as pessoas a
adotarem uma vida monástica como a melhor forma de ganhar o favor de Deus, a
experiência no monastério, no caso de Lutero, não o ensinou a amar a Deus.
Lutero mesmo admitiu que se tornou mais alienado e distante do seu Criador ao
mesmo tempo em quebuscava servir mais fielmente. Como ele mesmo colocou:
"Eu... estava sendo atormentado perpetuamente".
Os estudos de Lutero no monastério e na universidade,
como também na infância, o ensinaram a considerar Deus como um severo juiz,
então ele ficava aterrorizado com a possibilidade de não estar entre os
escolhidos de Deus. Ele confessou suas dúvidas ao padre Stauptz, e o sábio
conselheiro o incentivou a parar de estudar e meditar na ira de Deus e na Sua
justiça, e começar a meditar no amor e misericórdia de Deus. Stauptz mandou
Lutero olhar as chagas de Cristo e acreditar que Ele foi crucificado por ele, e
assim o monge encontraria a certeza do amor de Deus e do Seu favor. Lutero
levou este conselho a sério, mas as dúvidas ainda o atacavam, pois ele não
podia livrar-se da imagem de Deus como um juiz irado.
O estudo da Bíblia foi uma das responsabilidades de
Lutero como padre e teólogo, mas mesmo este sagrado exercício, a princípio,
parecia aumentar o senso de que era um miserável. Quando encontrava a ênfase
bíblica da justiça de Deus, Lutero percebia que a justiça perfeita de Deus
exige a perfeição do homem. Mas, não importava o seu esforço, pois Lutero não
conseguia atingir a retidão exigida pelo Criador; o monge atribulado continuava
a afundar em uma miséria mental e espiritual por não conseguir apaziguar a ira
de Deus contra quem havia pecado. O Deus justo que Lutero encontrou na Bíblia
permanecia na sua mente como um juiz de acusação, cujas leis haviam sido
quebradas.
Na universidade de Wittemberg, Martinho Lutero
recebeu a responsabilidade de fazer estudos de passagens bíblicas, e, em 1515,
dois anos antes de Ter afixado suas 95 teses, ele iniciou uma série de
palestras na epístola aos Romanos. Neste grande tratado de Paulo, Lutero
descobriu o coração do Evangelho no capítulo 1, versos 16 e 17: "Pois não
me envergonho do Evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo
aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de
Deus se revela no Evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por
fé".
A retidão que Lutero precisava, mas que não tinha poder
de produzir, ele encontrou no evangelho de Cristo. Ele descobriu que é uma
retidão que vem de Deus! A retidão que Deus exige, é a retidão que Ele mesmo
fornece, através da fé no Seu Filho. Aí está o coração da fé cristã - o homem
pecador é justificado, isto é, obtém uma vida reta diante de Deus, SOLA FIDE,
através da fé somente.
Quando Lutero fez a descoberta da justificação
através unicamente da é, ele exclamou: "Eu senti que havia realmente
nascido novamente e que havia entrado no próprio paraíso através dos portões
abertos. Ali uma face totalmente diferente das Escrituras tornou-se clara para
mim".
Sim, um milagre havia acontecido no coração e na alma de
Martinho Lutero. Enquanto ele estudava a palavra de Deus, o Espírito de Deus
lhe concedeu a vida espiritual, o regenerou e lhe deu a fé para crer e
compreender a justificação, a retidão que ele necessitava tão desesperadamente;
havia-lhe sido dada pelo Filho de Deus. O Protestantismo proclama que a fé,
somente a fé justifica o pecador, isto é, o declara justificado diante de Deus.
O catecismo de Heidelberg é uma das grandes
declarações da Reforma Protestante, e a sua definição de fé salvadora é
especialmente pertinente: "A verdadeira fé não é meramente o conhecimento
de que eu declaro saber ser a verdade tudo o que Deus revelou através da
Bíblia, mas também é a firme confiança de que o Espírito Santo trabalha no meu
coração pelo Evangelho; que não só para os outros, mas para mim também, a
remissão dos pecados, a justificação eterna e a salvação são gratuitamente
dadas por Deus meramente pela graça, só pelo méritos de Jesus Cristo".
Aí está! O pecador, sem qualquer mérito próprio apresenta
diante de Deus os perfeitos méritos de Jesus Cristo que é a suprema
benevolência do céu descendo para alcançar os pecadores que não podem alcançar
a deus,. Como Jesus colocou isso: "Porque o Filho do Homem veio buscar e
salvar o perdido"(Lc. 19:10). Ele veio buscar homens que, por natureza,
jamais O buscariam. Ele amava tanto os pecadores perdidos que Ele os perseguia
ao fugirem dEle, alcançou-os durante a fuga, e pelo toque suave da sua graça os
transformou e guiou para o céu. Paulo descreve essa salvação de forma belíssima:
"Quando, porém, se manifestar a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o
Seu amor para com todos os homens não por obra de justiça praticada por nós,
mas segundo a Sua misericórdia Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e
renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente por meio de
Jesus Cristo nosso Salvador"(Tt. 3:4-6).
Martinho Lutero sabia que havia recebido o presente
preciosos de Deus, a fé justificadora em Jesus Cristo. E quanto a nós? Ao
considerarmos os três grandes princípios do Protestantismo cremos na Bíblia?
Estamos firmados na SOLA SCRIPTURA, só na Palavra de Deus? Temos abandonado
todos os esforços de nos salvar por nós mesmos? Podemos nós apresentar-nos
diante de Deus salvos por Cristo, SOLA GRATIA? Já confessamos os nossos pecados
e sabemos da nossa condição de pecadores perdidos? Sentimo-nos sem esperança e
incapazes como Lutero? Cremos que, pela fé, Cristo morreu por nossos pecados e
ressuscitou? Se respondemos afirmativamente, nós também nascemos de novo; nós
também, encontramos os portões abertos do paraíso; nós também, temos recebido a
justificação que vem de Deus, que é "do primeiro ao último através da
fé", pois nós "que através da fé fomos justificados,
viveremos!".
Na última década deste século, mais de quinhentos anos
depois do nascimento de Lutero em 1483, a Igreja contemporânea deve proclamar o
Evangelho de SOLA FIDE. Se a Igreja da nossa geração não estiver fazendo isto,
chegou a hora, novamente, de protestar! Vamos transformar a nossa Igreja em
realmente Protestante novamente. Vamos testemunhar de Cristo e pela Palavra de
Deus. Vamos protestar contra os desígnios humanos e as falsas tradições. Nós
precisamos de um reavivamento do genuíno testemunho Protestante, pois estes
princípios estão sendo descartados, apesar de virem da Bíblia e terem sido
escritos com sangue dos mártires.
Vamos protestar, antes que o verdadeiro
Protestantismo se perca por omissão e negligência. Aqui está a fé dos nossos
pais, a fé pela qual viveram e pela qual morreram. Esta é a fé que permitiu que
Lutero ficasse de pé diante da igreja e do império e declarar: "A minha
consciência está presa à Palavra de Deus". Esta é a fé que sustentou o
mártir protestante inglês Thomas Cranmer, arcebispo de Cantebury, que morreu
queimado durante o reinado de Maria a Sangüinária. Que em momento anterior de
fraqueza, havia negado a sua fé para salvar a sua vida, mais que recuperou a
sua coragem e pagou o preço pela lealdade ao Senhor. Quando o fogo foi colocado
aos seus pés, Thomas Cranmer colocou sua mão direita dentro das chamas e
clamou: "Porque a minha mão ofendeu ao escrever o contrário do que dizia
meu coração, ela será queimada primeiro".
Como Lutero, Cranmer e outros mártires creram nos
três princípios do Protestantismo e sabiam que não podiam negá-los sem negar o
próprio Jesus Cristo. Que Deus nos dê coragem de viver pela mesma fé e de
morrer nela.
"Eterno
Deus e Pai do Nosso Senhor Jesus Cristo, dá-nos o Teu Espírito Santo que
escreve a Palavra pregada em nossos corações. Que nós possamos receber e crer
no Teu Espírito para sermos regozijados e confortados por Ele na eternidade.
Glorifica a Tua palavra em nossos corações e faz com que ela seja tão brilhante
e quente que nós possamos achar prazer nela, através do Teu Espírito Santo,
pensar o que é certo, e pelo Teu poder cumprir a Tua Palavra por amor de Jesus
Cristo, Teu Filho, Nosso Senhor. Amém!"
Martinho Lutero.
Tradução: Débora M. G. Gomes
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