O Valor do Perdão
Há uns dez meses ou mais, fui
chamado para orar por uma jovem senhora, de uns 23 anos, que se alimentava
muito pouco, estava definhando rapidamente, e, além disso, ficara possessa mais de uma vez. Essa situação já durava algumas semanas.
Vamos chamar essa jovem de Cláudia. Quem fez o contato comigo foi sua sogra.
Toda a família é crente, e freqüenta uma congregação não muito distante da
minha, no povoado de Tupuiú, município de Aquiraz, Estado do Ceará.
Tão logo recebi o convite para ir
visitá-la, senti no meu coração que o mal era causado por falta de perdão.
Durante sua enfermidade, recebeu orações de irmãos de sua igreja, sem que
houvesse melhora. Continuava muito fraca e pálida.
Marcamos então a visita. Depois do
culto, num domingo à noite, fomos (eu, minha esposa, um irmão e a sogra da irmã
enferma) a um pequeno sítio onde Cláudia e o marido moram. Ele é o zelador do
sítio. Por mais de uma vez eu havia pregado na minha igreja sobre o perdão,
enfatizando a imperiosa necessidade de não guardarmos rancores/ressentimentos
em nossos corações, para que as bênçãos divinas possam fluir.
Ela saiu do seu quarto. Seu aspecto
era de sofrimento: magrinha, olhar sem brilho, desânimo. Sentei-me ao seu lado,
no sofá, e lhe perguntei: - Cláudia, você guarda rancor de alguém e não
consegue perdoar? Ela caiu em pranto, e
respondeu afirmativamente. Senti que eu estava no caminho certo, e que o
Espírito Santo me havia guiado nessa obra. O passo seguinte, foi ajudá-la a
perdoar, a arrepender-se e pedir perdão a Deus. Depois que a ungi com óleo, fiz a oração
intercessora, e, em nome de Jesus, repreendi a enfermidade e toda a ação
maligna sobre sua vida, tudo conforme a Bíblia:
“Está alguém entre vós doente?
Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome
do Senhor, e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se
houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai as vossas culpas uns
aos outros e orai uns pelos outros, para que sareis; a oração feita por um justo
pode muito em seus efeitos” (Tiago
5.14-16; Marcos 16.17-18).
Em poucos dias Cláudia estava
completamente curada. Entendo que foi curada imediatamente; os sintomas da
enfermidade é que foram desaparecendo
aos poucos. Semanas depois a encontrei
alegre e feliz louvando ao Senhor. Louvo a Deus porque, com isso, a minha fé
aumentou muito. Fiquei mais convencido
de que não podemos guardar rancores, ódios, ressentimentos em nossos
corações. É imperioso que nossos canais
espirituais estejam limpos. Jesus disse: “Bem-aventurados os puros de coração,
porque eles verão a Deus” (Mateus 5.8).
Cláudia não havia atentado para as
seguintes palavras de Jesus: “Assim vos fará também meu Pai celeste [vos
entregará aos verdugos], se de coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as
suas ofensas” (Mateus 18.35). E, mais objetivo, disse: “Pois se perdoardes aos
homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós. Porém se
não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial não vos
perdoará as vossas” (Mateus 6.14-15).
Ora, se não tivermos capacidade de
perdoar, os nossos pecados também não serão perdoados. Se o Pai não nos perdoa,
estamos afastados Dele pelo pecado (Salmos 66.18; Isaías 59.2), e o diabo terá
o direito legal de intrometer-se em nossas vidas, para nos destruir (João
10.10). Cláudia – como agem muitos – preferiu continuar guardando o rancor, na
esperança de que Deus não levasse em consideração a sua desobediência.
Ninguém esqueça de que o perdão
deve ser sincero e de coração. Deus não aceita perdão dos lábios para fora. O
perdão deve ser incondicional. Nada de dizer: - Eu perdôo fulano, mas ele que
fique lá no seu lugar e eu no meu; eu perdôo fulana, mas não quero conversa com
ela; não participo do seu grupo; não me sento perto dela, etc. Vejam quão
bonito exemplo Jesus nos deu da cruz, Seu último púlpito: “Pai, perdoa-lhes,
pois não sabem o que fazem” (Lucas 23.34). E quando disse a Judas Iscariotes,
depois do beijo da traição: “Amigo, para que vieste?” (Mateus 26.50).
O ódio alimentado assemelha-se a
uma árvore: quanto mais velha mais difícil de ser arrancada, porque suas raízes
se aprofundam mais e mais. O mundo está cheio de pessoas rancorosas,
vingativas, escravas do ódio. Odeiam
pessoas, nações, raças, instituições, autoridades. Não há paz num coração
assim. Conheci várias pessoas cheias de ódio.
Não podem receber a graça divina. Vejam: “Segui a paz com todos e a
santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, tendo cuidado de que ninguém se
prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos
perturbe, e por ela muitos se contaminem” (Hebreus 12.14-15). Perdoar, perdoar
sempre é preciso se quisermos viver em comunhão com Deus.
Se não estivermos em paz com os outros, de nada valem nossos atos de
misericórdia, orações e jejuns, nossa fé, nosso louvor, nossos dízimos. Jesus
deixou isso bem claro: “E quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa
contra alguém, perdoai, para que vosso pai, que está nos céus, vos perdoe as
vossas ofensas” (Marcos 11.25-26). Olhem o quanto perdoar é importante: “Se
trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma
coisa contra ti, deixa diante do altar a tua oferta, vai primeiro
reconciliar-te com teu irmão; depois vem, e apresenta a tua oferta” (Mateus
5.23-24).
Pr. Silvio L. Azevedo
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