Riqueza nem sempre é sinal de benção
Um dos primeiros
desejos do homem é por riqueza. Este desejo é tão universal que podemos
praticamente dizer ser ele instintivo. Quantos não diriam que se possuíssem-na
seriam muitíssimo abençoados! Mas existem dez mil provas que a alegria não
consiste na abundância que o homem possui. Tantos exemplos são bem conhecidos
que eu nem preciso citá-los para mostrar que quem tem riquezas não é muitíssimo
abençoado. São mais aparência do que realmente são. Assim, já foi muito bem
dito que, quando vemos o quanto um homem tem, nós o invejamos; mas se
pudéssemos ver o quão pouco ele aproveita, nós teríamos pena dele. Muitos dos
que tiveram as circunstâncias mais fáceis tiveram as mentes mais difíceis.
Aqueles que conseguiram o que queriam, fossem seus desejos sadios, foram
conduzidos pela posse do que os deixava infelizes pois não tinham mais.
"O avarento
tem fome em seu celeiro,
Choca seu ouro, querendo mais,
Senta-se tristemente sem se mover, acredita ser pobre".
Nada é mais claro
para alguém que queira investigar que, as riquezas não são o bem principal do
qual a tristeza foge, e na presença da qual a alegria eterna brota. Muito
freqüentemente a riqueza engana seu possuidor. Delícias são esparramadas em sua
mesa, mas seu apetite desaparece, músicos aguardam seu comando, mas seus
ouvidos estão surdos para qualquer tipo de música; tem quantos feriados quiser,
mas para ele a recreação perdeu seu encanto; se for jovem, a fortuna veio a ele
por herança, e ele aproveita seu ganho até que o esporte se torne mais
enfadonho do que o trabalho, e a dissipação pior do que o trabalho pesado.
Vocês sabem como a riqueza pode fabricar asas, como um pássaro que descansa na
árvore, ela voa para longe. Na doença ou nos momentos de desânimo, estes amplos
recursos que antes sussurravam, "Alma, descansa", provam ser
confortos nada eficientes. Na morte, elas fazem o choque das separações parecer
mais fortes, pois quanto mais você deixa, mais você perde. Podemos dizer, se
tivermos riquezas, Deus meu, não me deixe perturbar por estas aparências, não
deixe que eu transforme o ouro e a prata em deuses, os bens e possessões,
minhas propriedades e investimentos, as quais me deste por sua providência. Eu
te imploro, abençoa-me muitíssimo. Quanto às possessões terrenas, estas serão
minha ruína a menos que eu veja a sua graça nelas. E se você não tiver
riquezas, e provavelmente a maioria de vocês nunca terá, diga, Pai, negaste-me
este bem externo e aparente, enriqueça-me com seu amor, dê-me o ouro de tua
aprovação, abençoa-me muitíssimo; então distribua aos outros conforme tua
vontade, divida a minha porção, minha alma espera pela tua determinação diária;
assim me abençoas muitíssimo, e eu serei contente.
Outra bênção transitória
que nossa pobre humanidade deseja desesperadamente e procura ardentemente é a
fama. A este respeito nos ufanamos de ser mais ilustres que nossos irmãos, e
ultrapassamos nossos competidores. Parece muito natural o desejo de fazer um
nome, e ganhar reconhecimento no círculo ao qual pertencemos, qualquer que
seja, e gostaríamos de ampliar seu perímetro, se pudéssemos. Mas aqui, como nas
riquezas, é inquestionável que a fama não traz com ela nenhuma medida de
gratificação. Os homens, ao procurar por notoriedade e honra, têm um grau de
prazer na busca em si, que nem sempre possuem quando finalmente alcançam seu
objetivo. Alguns dos homens mais famosos também foram os mais miseráveis da
raça humana. Se você possui honra e fama, aceite, mas eleve esta oração a Deus,
Meu Deus, abençoa-me muitíssimo, pois qual a vantagem se meu nome estivesse em
milhares bocas, se você o vomitasse da sua? Que importa, se meu nome estivesse
escrito no mármore, se não estivesse escrito no Livro da Vida do Cordeiro?
Estas são bênçãos aparentes, bênçãos efêmeras, bênçãos enganadoras. Dê-me a tua
bênção, então a honra que vem de ti fará de mim um homem muitíssimo abençoado.
Se por acaso você vive na obscuridade, e nunca entrou na lista dos ilustres
entre seus companheiros, contente-se em correr bem sua carreira e complete
verdadeiramente sua vocação. Não ter fama não é a doença mais grave; é pior do
que tê-la como a neve, que branqueia o chão de manhã, e desaparece no calor do
dia. O que importa para um homem morto o que os homens falam dele? Que você
seja muitíssimo abençoado.
(C.H. Spurgeon)
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